Isto de gerir prioridades na caixa prioritária
Quando entro no meu trabalho, normalmente estão a entrar mais uns quatro ou cinco colegas também Part-time.
Picamos o ponto e aguardamos que nos dêem as nossas caixas e que nos seja atribuído uma caixa na linha de caixas.
Este é o momento mais temido.
A grande maioria tem receio de ir para as caixas prioritárias, ou então para as caixas de 10 unidades.
E quando falo em receio é mesmo isso, medo, pois já sabemos que à partida o dia não vai correr muito bem e vamos ter todo o tipo de problemas com clientes.
Hoje vamos falar da caixa prioritária, acho que todos sabemos o que é a caixa prioritária então vamos passar à parte legal da coisa.
Como já muitos devem ter reparado existe uma lei que regula o atendimento prioritário que passo a transcrever:
Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
CAPÍTULO I
Disposições gerais
Artigo 1.º
Objeto e âmbito de aplicação
1 - O presente diploma estabelece medidas de modernização administrativa, designadamente sobre acolhimento e atendimento dos cidadãos em geral e dos agentes económicos em particular, comunicação administrativa, simplificação de procedimentos, audição dos utentes e sistema de informação para a gestão.
2 - O presente diploma aplica-se a todos os serviços da administração central, regional e local, bem como aos institutos públicos nas modalidades de serviços personalizados do Estado ou de fundos públicos.
3 - A aplicação do presente diploma à administração regional faz-se sem prejuízo da possibilidade de os competentes órgãos introduzirem as adaptações necessárias.
(...)
CAPÍTULO II
Acolhimento e atendimento dos cidadãos
(...)
Artigo 9.º
Prioridades no atendimento
1 - Deve ser dada prioridade ao atendimento dos idosos, doentes, grávidas, pessoas com deficiência ou acompanhadas de crianças de colo e outros casos específicos com necessidades de atendimento prioritário.
2 - Os portadores de convocatórias têm prioridade no atendimento junto do respetivo serviço público que as emitiu.
(...)
Como facilmente podem concluir esta lei apenas se aplica a entidades públicas, ou seja, não regula de todo o atendimento em hipermercados como é aqui o caso.
Então como funciona isto das caixas prioritárias em hipermercados?
Supostamente devemos dar prioridade a idosos, doentes, grávidas, pessoas com deficiência ou acompanhadas de crianças de colo e outros casos específicos com necessidades de atendimento prioritário.
E ai é que esta, devemos, ou seja não há nada que obrigue.
O procedimento que alguém que se enquadre no conceito de atendimento prioritário deve fazer é dirigir-se a fila e pedir que lhe seja cedida a passagem ou se preferir deve avisar o operador de caixa e este deve perguntar educadamente à fila se eles aceitam dar passagem a essa pessoa, mas se as pessoas na fila não o desejarem não são obrigadas a ceder passagem.
E como explicamos isto as pessoas na fila? É muito complicado.
Normalmente, tudo o que é mãe com um carrinho de bebe acha que tem direito a prioridade.
Isto não é verdade, só pais acompanhados de bebes até aos dois anos é que são considerados prioritários.
Mas e se a criança estiver deitada no carrinho a dormir descansadamente, será que isto das prioridades se aplica?
Onde esta aqui a urgência no atendimento?
Sim porque o atendimento prioritário esta diretamente relacionado com a necessidade urgente de sair da loja.
Depois há a questão da gravidez, grávidas já num estado avançado devem ter acesso ao atendimento prioritário, nunca estive grávida mas é fácil perceber que ao fim de uns meses de gravidez com o peso da barriga, pés inchados, não deve ser nada fácil aguentar as filas enormes que se vê nos hipermercados.
Mas e grávidas no inicio da gestação que nem barriga tem e exigem que lhes seja dada a prioridade, será que a merecem?
Eu penso que não.
Isto tudo para explicar que ontem lá fui eu para a caixa prioritária e claro que foi um dia que não correu bem.
Muita gente que não queria dar prioridade, muitas mães com filhos com mais de quatro anos a pedir a prioridades, idosos.
E depois é preciso saber gerir isto tudo, mas não é fácil decidir quem tem mais ou menos prioridade.
Basicamente eu acho que estas caixas são uma dor de cabeça, não o eram se as pessoas realmente estivessem a par da lei e tivessem toda uma atitude cívica e de respeito uns com os outros.
Mas o que realmente se verifica é que a grande maioria das pessoas não sabe que a lei não se aplica a entidades privadas, não sabe quando deve ou não dar prioridade e muita gente também não sabe esperar pela sua vez e respeitar a fila.
Isto na minha opinião só reflete a falta de civismo das pessoas.